Em consequência do meu "projeto-mocinha", fútil e secreto, fui à manicure pela terceira semana consecutiva. Notam-se dois resultados diretos:
PRIMEIRO- cutículas visivelmente enfraquecidas pela incessante (e dolorosa) luta contra afiados alicates de unha e espátulas indecorosas;
SEGUNDO- uma certa intimidade (caminho sem volta!) com as habitués do salão, o que impossibilita uma eventual leitura do jornal.
SEGUNDO- uma certa intimidade (caminho sem volta!) com as habitués do salão, o que impossibilita uma eventual leitura do jornal.
Tem uma cliente em especial que atormenta minhas idas ao salão de beleza. É uma só, mas fala por dez. Não suporta a companhia de si mesma. E provavelmente ama o som da sua própria voz. Incomoda até na internet (sim, pegou meu email há 3 semanas, e desde então acumulo correntes com as mais diversas orações e piadas para todos os gostos, AFF).
Hoje, enquanto lia sobre a "gangue da bicicleta" que assalta transeuntes na Avenida Paulista, ela dizia:
-Brenda, você tem que ir no Vila Country "de" quinta ou domingo!
-Mas só amarrada! - retruquei, simpática.
-Brenda, você tem que ir no Vila Country "de" quinta ou domingo!
-Mas só amarrada! - retruquei, simpática.
Pior que ir ao Vila Country ouvir sertanejo é ir com ela, aff!- pensei, enquanto virava a página.
Em outro caderno lia sobre o jovem e premiado diretor de cinema Esmir Filho, cujo filme estreia sexta-feira. E ela não para.
Em outro caderno lia sobre o jovem e premiado diretor de cinema Esmir Filho, cujo filme estreia sexta-feira. E ela não para.
-Tá escrito duende aí... ué, será que um marmanjão desse tamanho acredita em duende! -gritou, polarizando atenção para o trecho que leu do nome do filme, "Os Famosos e os Duendes da Morte". Tudo era pretexto pra puxar conversa, que golpe baixo. Achei melhor fingir que não ouvi essa.
Mas ela não desiste: resolveu contar por que estava triste (jura!).
Não posso mais ler nesse salão de cabeleireiros, pensei, guardando o jornal na bolsa.
Sem tempo nem para me olhar nos olhos, contou a história da sua prima que deixou seu bebê para o pai da criança cuidar, porque ela trabalhava muito e não tinha tempo pro próprio filho. Perguntou o que eu achava, já emendando sua própria resposta: o bebê estava muito melhor cuidado lá, com a presença da avó paterna.
-Ah... -sussurrei num tom de alívio forjado que fez me sentir ridiculamente hipócrita. O desconforto durou o tempo da próxima gorfada verborrágica:
-E o BBBesta ontem, hein! Graças a Deus que o Dourado ganhou. Eu e minha irmã votamos o dia inteiro. Se bem que ele já era carta marcada pra ganhar, só por ter tatuado o símbolo do Big Brother, imagina!
Ah nããão! Vergonha alheia! Já não bastava o fato de eu ter que lidar com minha própria culpa por ter ficado SIM na frente da TV até o final do programa, mesmo sabendo que nada muda na minha vida agora que um cara de nome Marcelo Dourado ficou milionário. E que, se qualquer um dos outros 2 tivessem vencido, tampouco iria me importar. Ainda assim, assisti a final do Big Brother (pronto falei). Pelo menos eu não votei! Como se isso fizesse de mim uma pessoa pior, ou melhor... enfim: eu só queria fazer as unhas e ler meu jornal em paz, sem ter que me fingir minimamente interessada nas baboseiras daquela mulher. Escolhi uma camada de esmalte Doce Orgulho coberta com Entardecer, na certeza de que não piso mais naquele salão quando a madame que engoliu vitrola estiver por ali.
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