Estamos sem TV a cabo em casa, e desde então, tenho usado meu tempo livre devorando diversos livros. O desta semana me remeteu à infância, quando papai foi transferido para a Nestlé de Itabuna, na Bahia, terra de Jorge Amado, onde passei os primeiros 4 anos de vida (depois de MG, antes de SP). Pelas bandas de lá, corria com meus irmãos pelas praias de Ilhéus, fazia careta ao óleo de fígado de bacalhau (Emulsão Scott) que mamãe nos socava goela abaixo e brincava de trelas com as primeiras colegas da escolinha Carrossel, onde aprendi a esconder os traumas que toda infância camufla.
"Cacau", de Jorge Amado (Cia das Letras) |
Voltando ao livro de Jorge Amado, "Cacau" retrata a desigualdade social brasileira que já existia desde sempre; não só nos cacauais da Bahia (neste caso, Itabuna), mas também nos cafezais de São Paulo, nos seringais da Amazônia, nos canaviais do nordeste...
"Cacau", um dos primeiros romances que Jorge Amado escreveu quando tinha 20 anos, foi escrito apenas 45 anos depois da abolição da escravidão, e relata a exploração injusta e desumana que os trabalhadores negros continuavam sofrendo por parte dos coronéis das fazendas. Trabalhavam em troca de moradia (precária) e comida (comprada dos próprios senhores por preços exorbitantes), o que os deixava altamente endividados, e, logo, eternamente presos àquele sistema inquestionável, sem certezas, horizontes nem esperanças.
Embora envolto num cenário sombrio da história do Brasil, Jorge Amado recheia "Cacau" com personagens cheios de sonhos e ideais, que pintam o mundo preto e branco com a cor verde-amarela, muito embora a vida real nem sempre tenha um final feliz. Gostei muito e recomendo!
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