Ontem à noite fui com meu marido ao restaurante japonês Edo by fushimi. Tinha vivalma: nenhum cliente nem funcionário. Acomodei-me à mesa do sofá azul, minha favorita, disposta a degustar as delícias que sempre nos serviram naquele que, por muito tempo, foi o nosso preferido aqui no Recife.
Mas não tinha, realmente, ninguém no local. Nem som, pratos, nada: parecia fechado. Por ser de casa e ter intimidade com o local, meu mancebo foi entrando cozinha adentro e encontrou um jovem garçom, assustado, jantando num canto. Perguntou se o restaurante estava aberto, funcionando normalmente; "sim, sim", garantiu. Ótimo. Em pouco tempo, veio atender à mesa. Ele pediu uma Heineken, e eu, "Sakê, por favor".
"Hoje não tem sakê", disse Tiago, o garçom.
(pausa dramática para a frustração de quem não gosta de cerveja)
"Como assim? Um restaurante japonês sem sakê?", perguntou Marcelo, o marido. "É, hoje não tem sakê".
"Não reabasteceram por causa do ano novo?", perguntei, ingênua. "Sim", respondeu o funcionário, com incerteza e indiferença cruel (interpretação dramática de quem queria muito tomar sakê).
Marcelo pediu missoshiro. "Não tem missoshiro".
"Então, menu confiance". O garçom Tiago fez cara de "nunca ouvi falar". Confuso, não estava familiarizado com o cardápio. "Esse não pode pedir, porque não tem gente pra preparar".
Trocamos olhares, pedindo privacidade (garçom sai).
Ele: Quer ficar aqui ou ir pra outro?
Eu: Ah, não sei… a gente já tá aqui, mesmo.
Ele: Será que esse restaurante vai fechar?
Eu: Ah… que pena! Já fomos tão felizes aqui…
Ele: Seria bom se Márcio Fushimi não deixasse cair antes de fechar… pra encerrar no auge.
Nessa hora, abriu-se a porta e entrou todo um bloco de empregados da casa; todos meio sem jeito, se aprumando com pressa porque o Tiago foi avisar que chegou cliente. Resolvemos pedir um combinado normal, então. "Não tem peixe branco", alertou para outro desfalque. Sei, sei. Pedimos para substituir por atum, que veio cortado tão grosso quanto um intestino. E comemos. Bebemos. Conversamos. "A conta, por favor". Obrigada.
Enquanto pagávamos, a porta se abriu e entraram no restaurante os famosos Zeca Camargo e Mariana Ximenes. Apareceram outras pessoas para atendê-los. Sentaram à mesa de frente pra nossa; éramos os únicos do local, e, pela atmosfera intimista, ouvimos quando a atriz pediu "um sakê, por favor". Marcelo caçoou com ironia, dizendo baixinho "olha aí, que vergonha não ter sakê…", e, mal acabou a frase, uma grande garrafa cheia de sakê foi retirada da geladeira ao nosso lado!
Mostraram pra Mariana Ximenes, que não aprovou.
Fiquei boquiaberta, cutuquei Marcelo.
Fiquei boquiaberta, cutuquei Marcelo.
"Ela acha esse muito doce", rejeitou Zeca Camargo.
"Temos este outro, mais soft", disse o garçom Fernando, mostrando uma segunda garrafa, menor, e também cheia de um tipo "soft" de sakê (oi?).
(Outra pausa dramática: não entendi nada... ou então entendi demais.)
O último gole de cerveja desceu amargo. Pegamos o comprovante do Visa Electron, nos levantamos do sofá azul e... (assinale a alternativa correta): o que acha que aconteceu depois?
A-) Peguei as duas garrafas de sakê, virei uns goles numa lapada só, e quebrei nos espelhos atrás de Zeca Camargo e Mariana Ximenes; depois dei uma bruta sova em todo mundo, usando golpes que aprendi assistindo às lutas de MMA na TV. E domingo, não percam!, vocês vão me assistir no Fantástico, pois as câmeras flagraram tu-do!
OU
OU
B-) Discretamente reclamamos aos garçons, saímos dali fulos da vida, e fomos dar um passeio pelos outros locais da excelente Galeria Joana d'Arc (administrada com eficiência pela minha querida cunhada Liliana Pinheiro), que é, sem dúvida, um polo gastronômico premiadíssimo em excelência, com serviços de primeira, que ignora preconceitos e recebe bem todos os tipos de público. Então, jururu, resolvi tornar pública esta reclamação, mesmo sob risco de ser tarimbada como classe média ressentida, alienada e desocupada… enquanto o Congresso esconde os salários dos políticos, brasileira de 17 anos morre bombardeada num ataque terrorista no Líbano, menina sofre 2 estupros e depois é queimada viva na Índia, e o aquecimento global, aos poucos, vai cozinhando cada um de nós na face desta Terra.
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