Hora do recreio: toca o sinal e todas as crianças saem correndo pra brincar lá fora. Faixa etária: 4 aninhos. Na aglomeração, a líder das meninas (sempre tem uma) cisma, subitamente, ao mirar uma criança específica: "você não pode brincar com a gente porque é preta". Pronto, estava dada a sentença. E a criança era eu, indiscutivelmente preta. A única da classe.
Em casa, não contei pra mamãe nem pro papai. Tinha vergonha de ser preta e não poder brincar. Sentia que tinha alguma coisa errada, mas não sabia que esse monstro tinha um nome tão sisudo: racismo. Algo que aquelas pobres crianças aprenderam em casa, com os valores deploráveis de seus pais ignorantes.
Eu aos 4 anos, com botas ortopédicas e pernas tortas. Ao fundo, no trepa-trepa, meu irmão Arthur Eustáquio.
10 anos depois... direto do túnel do tempo...
Numa bela tarde de domingo, pós-almoço familiar com macarrão e frango assado, nos assentamos na sala do apartamento da Cerro Corá para assistir ao pôr-do-sol da cidade de São Paulo, no início dos anos 90. Foi então que o assunto racismo veio à tona e revelei aquilo que me acontecia na escolinha Carrossel no início dos anos 80. Como quem solta um grito da garganta, despejei meu infortúnio de menina. Chorei minhas mágoas e minha revolta, falei como se não houvesse amanhã, querendo culpar tudo e todos pelas injustiças desse mundo hipócrita... até que meu pai interrompeu. Negão de olhos verdes, fitou-me com serenidade e sabedoria. E disse algo que levarei pra sempre, ao longo do caminho.
"Brenda, trabalhe". Só isso.
E é o que vemos nele; alguém que nunca ficou parado reclamando das coisas. Sempre deu duro, trabalhou muito e hoje colhe o que plantou. Se está certo ou errado, não cabe a ninguém julgar. O que sei é que meu pai, pra mim, é um exemplo de vida. Um grande homem e modelo a ser seguido. Tenho orgulho imenso de ser a filha desse homem notavelmente íntegro e batalhador. Devo a ele muito do que sou... sua filosofia é: "as pessoas podem duvidar do que você diz, mas nunca do que você faz". Obrigada, pai. Por ontem, hoje (13 de maio) e sempre. Amo você.
E já que eu adoro imagem em movimento, aqui um video da última vez que estive com meu pai http://www.youtube.com/watch?v=dBOcDbzly7A em setembro do ano passado. Claro que ele só aparece no final, porque é discreto que só!
Hoje papai está no Chile, e amanhã desembarca no Brasil para nos visitar! Faremos uma viagem de van rumo a Minas Gerais, onde toda a família (vovô!) nos aguarda. A festa será tremenda, e o tempo, certamente curto demais pra matar tanta saudade. E haja coração. Fim de semana na minha terra, uai, com meu pai, irmãos, sobrinhos, tios, primos... ô trem mai bão, sô!
ANSIOSA E FELIZ pelo fim de semana vindouro... amém!
Em casa, não contei pra mamãe nem pro papai. Tinha vergonha de ser preta e não poder brincar. Sentia que tinha alguma coisa errada, mas não sabia que esse monstro tinha um nome tão sisudo: racismo. Algo que aquelas pobres crianças aprenderam em casa, com os valores deploráveis de seus pais ignorantes.
Eu aos 4 anos, com botas ortopédicas e pernas tortas. Ao fundo, no trepa-trepa, meu irmão Arthur Eustáquio.
10 anos depois... direto do túnel do tempo...
Numa bela tarde de domingo, pós-almoço familiar com macarrão e frango assado, nos assentamos na sala do apartamento da Cerro Corá para assistir ao pôr-do-sol da cidade de São Paulo, no início dos anos 90. Foi então que o assunto racismo veio à tona e revelei aquilo que me acontecia na escolinha Carrossel no início dos anos 80. Como quem solta um grito da garganta, despejei meu infortúnio de menina. Chorei minhas mágoas e minha revolta, falei como se não houvesse amanhã, querendo culpar tudo e todos pelas injustiças desse mundo hipócrita... até que meu pai interrompeu. Negão de olhos verdes, fitou-me com serenidade e sabedoria. E disse algo que levarei pra sempre, ao longo do caminho.
"Brenda, trabalhe". Só isso.
E é o que vemos nele; alguém que nunca ficou parado reclamando das coisas. Sempre deu duro, trabalhou muito e hoje colhe o que plantou. Se está certo ou errado, não cabe a ninguém julgar. O que sei é que meu pai, pra mim, é um exemplo de vida. Um grande homem e modelo a ser seguido. Tenho orgulho imenso de ser a filha desse homem notavelmente íntegro e batalhador. Devo a ele muito do que sou... sua filosofia é: "as pessoas podem duvidar do que você diz, mas nunca do que você faz". Obrigada, pai. Por ontem, hoje (13 de maio) e sempre. Amo você.
E já que eu adoro imagem em movimento, aqui um video da última vez que estive com meu pai http://www.youtube.com/watch?v=dBOcDbzly7A em setembro do ano passado. Claro que ele só aparece no final, porque é discreto que só!
Hoje papai está no Chile, e amanhã desembarca no Brasil para nos visitar! Faremos uma viagem de van rumo a Minas Gerais, onde toda a família (vovô!) nos aguarda. A festa será tremenda, e o tempo, certamente curto demais pra matar tanta saudade. E haja coração. Fim de semana na minha terra, uai, com meu pai, irmãos, sobrinhos, tios, primos... ô trem mai bão, sô!
ANSIOSA E FELIZ pelo fim de semana vindouro... amém!
PAI E FILHA, necessariamente nesta ordem.
8 comentários:
Que lindos vocês!
Beijos e tenha um ótimo fim de semana.
Nossa, gata, essa imbecilzinha que te discriminou no passado deve ter estar uma beeeelllla duma baranga hoje, hein? Se ela a visse agora, ia implorar sua amizade. Maravilhosa, inteligente, cultíssima, tema de samba rock e amada por todos. Adorei as palavras de seu pai. Outro dia perguntaram no bairro carcamano que nós moramos se a Isa era filha da Maria, minha ajudante doméstica. Levei na esportiva mas fiquei bege (por dentro tbm) e liguei pro papai, de quem herdou essa maravilhosa melanina. "Ela vai ser zoada na escola , vão duvidar que é minha filha e irmã da brancaaa". Ele disse, bem tranquilo: "Imagina, ela vai ser ainda mais linda e inteligente do já é que os moleques vão se ajoelhar aos pés dela, não zoar". Tá, não convenceu porque criança é cruel, seu sei. Mas como faço um trabalho de "paga pau geral da negritude" em casa, outro dia Helena, que tem cabelo liso e pele bege, me pergunta: "Ai, mãe, quando meu cabelo ficar enrolado, que nem o da Isa, posso colocar fivela assim também?". Aí fiquei mais tranquila. Até a que não perece negra, mas é, tem orgulho disso. Acho que é sinal dos tempos, Bre! Mas já guardei aqui as frases excelentes do seu pai. beijos, amada!
Que delícia essas viagens pra rever família!!!! Fizeram camisetas e afins???
Tenho orgulho do Tio Paulo tb! Homem batalhador e vencedor!
Bjos.
Brenda linda,
Nem sabia que vc tinha blog! já adicionei aos favoritos. Que linda esta história! Que pai bacana!!!! Aproveite a visita! Sou sua fã!!! Bjks Carol (amiga da Lucia)
Brenda, gostei muito de teu texto!
Foto linda!
Minha família (grande) é toda de Minas. É bom demais se reunir com pessoas tão importantes num lugar tão maravilhoso, não é?
Espero ter a oportunidade de assistir a uma peça tua...
Bjs,
Jefferson.
Brenda, eu tinha um problema parecido: só que um pouco pior:
"você é gordo, preto e gay! não pode brincar!"
e detalhe, na educação física eu era chamado de "café com leite!"
fatos da vida...
Lindo texto, Brenda! As crianças são mesmo cruéis! Parabéns pelo paizão! Bjos de sua nova fã!
Eu sempre te aceitei... rrrsss
Adorei a foto com seu pai!
beijo
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