BANZO -texto de Brenda Ligia (Brasil / 2020)
“O que sua máscara esconde?
Eu cubro a angústia por trás da ferida do tempo, pra suspender a melancolia do banzo.
Me protege de mim, onde resido só, vasculhando as sombras.
Meu banzo destila a tormenta do outro e apura o suplício que nos move.
Não tem poesia que estufe o oco do estômago de quem enxerga amarelo por causa da fome.
Tem criança pedindo leite e colo pra mãe com sono e medo.
Fúnebres, sigamos ao abate, rumo à quietude dos olhos opacos de velhos avulsos.
Esses milhões de vidas valiam quantos milhões?
O cheiro de cândida grudou como luva na minha mão.
Assepsia, privada. Sente?
O sol se deita na varanda.
A cólera deságua dos olhos.
E eu querendo apenas vento na cara quando o horizonte desponta e afronta o invisível que nos varre.
Pássaros enjaulados retumbam por socorro, mas tento ver candura nas formigas, apesar do fim do mundo.
Dizem Os Poets que a formiga carrega dez vezes mais que seu peso.
Quanto peso você aguenta pra fazer brotar no peito um sorriso sem flores?
Quando escapo do caos, num átimo, lá se foram décadas de abandono e os humanos estão, finalmente, de volta com seus abraços, boletos e amarguras”.
Por Brenda Ligia
@brendaligiamiguel (instagram)
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BANZO: sentimento de melancolia e de aversão à privação da liberdade praticada contra a população negra no Brasil na época da escravidão; nostalgia mortal.
[Brasil] Triste; atônito; pensativo.
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