Uma
das primeiras memórias que tenho da infância é de quando vi, pela
primeira vez, a lua. Eu tinha uns 4 anos e viajava no banco de trás da
nossa Variant branca, indo de Ilhéus para Itabuna. Ia solta, sem cinto
de segurança nem nada, porque nos anos 80 era assim, mesmo. Minha mãe, a
motorista, com grandes bobes coloridos escondidos nos cabelos, sob um
lenço estampado, dirigia pela estrada enquanto fumava feito caipora, soltando baforadas do seu Plaza longo c/ piteira (nos anos 80 era assim, mesmo).
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A Lua e Eu |
Eu, sarará de maria-chiquinha e barrigão cheio de verme, observava o
mundo com os olhinhos atentos de criança curiosa... via o mar, a fumaça,
e a joaninha que eu trazia, com cuidado, na palma da mão. "Essa vai morar com a gente", pensei meu segredo, "e dormir comigo, no meu quarto". Satisfeita, eu.
Via o céu, as estrelas, a lua... mas, peraí: a lua estava seguindo a
gente. Os coqueiros passavam, as casinhas de beira de estrada ficavam
pra trás, tudo sumia de vista... mas a lua, não! Ela estava,
definitivamente, se-guin-do a gente! -Mãe! A lua está seguindo a gente, mãe! Pelo retrovisor, ela me olhou, sorriu e disse "ãrran".
Como assim? Só "ãrran"? Um evento daquela dimensão, descoberto por mim,
e ela apenas "ãrran"!? Tsc, tsc, tsc... que decepção, Dona Marizia.
E assim foi até chegarmos em casa: a lua nos fez a escolta exclusiva
mais brilhante de que se teve notícia. Eu, me sentindo importante,
esboçava um sorriso tão largo que exibia até as estrelas do céu da boca.
"Só podia ser coisa da joaninha da sorte!" Menina mais satisfeita, naquele dia, não havia em toda a Bahia.
Ao longo dos anos, descobri que a lua me seguiria sempre, por onde quer
eu fosse. Desde quando nasci (virada pra lua?), na minha amada Ibiá/MG
(onde a vida tem cheiro de pão de queijo de vó), passando por São Paulo,
Suíça, Trinidad & Tobago, Panamá, Recife... por onde andei, até os
dias de hoje, ela (soberana) me vigia (e reina) atenta, lá do topo.
No céu de minha existência, ao longo das últimas décadas, a lua deu 481
voltas na Terra, mantendo sempre sua beleza majestosa, única. Quem
mudou fui eu... bastante. Mas aquela menininha ainda brinca em minha
alma... principalmente esta noite, quando encontrei uma joaninha na
calçada e trouxe escondida, pra morar comigo. Me sinto, de novo, como
aquela criança ingênua que guardo desde sempre, com carinho, aqui na
minha memória emotiva; que se encantava com as maravilhas do mundo e os
mistérios dos céus, sem saber ao certo onde termina um e começa o outro.
E você, qual é sua primeira memória de infância?
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