Ontem fui fazer pé, mão e hidratação num salão da Vila Nova Conceição (a rima, aqui, foi desproposital). Prestes a entrar em transe relaxante no lavatório, surgiu uma senhora, cliente habitual, de cabelo violeta. Senti sua mão apalpando minha barriga...
-Tá de quantos meses?
Cuidando da beleza |
Ah, não... posso até parecer legal, mas no fundo, no fundo, não ando lá muito sociável.
-Quase 8.
-Com essa barriga enooorme?! Impossível estar só de 8... está muito grande! Vai nascer a qualquer momento, menina. Ou você tem diabetes?!
-Não... não tenho.
De olhos fechados, senti o jato d’água morninha lavando meu bulbo capilar. “Ah, tá... então quer dizer que esta sábia senhora desconhecida sabe mais que meu obstetra, que os 5 ultrassons estavam errados, e que todos os exames do meu pré-natal mentiram pra mim!”
-Olha, eu tive 6. Todos nasceram com olhos azuis! Saiba que, desde bebê, é importante não mimar, viu? Quando chorar, você não pode pegar no colo, não. É manha. Tem que deixar no berço, pra aprender desde cedo.
“Aprender o quê, minha senhora!? A lidar com o abandono? Isso só pode ser pegadinha...”
-E outra coisa: você tem marido, né? Pra vocês dormirem de noite, não pode acostumar a mamar no peito, não. Pros meus eu já dei mamadeira logo cedo. E dormiam a noite inteira, era uma beleza. Você se recupera rápido e não fica com os seios caídos... ainda mais você, que já tem bastante. Senão o marido que sente, né?
E riu. Sozinha. A danada da velha.
Aí falei pra cabeleireira que preferia enxaguar o produto em casa, mesmo. Enquanto passava meu cartão de débito, a senhora ainda teve tempo para soltar a seguinte pérola:
-Você não faz escova? Quando nascer, vai precisar ter um cabelo mais prático. A moça que trabalha lá em casa passou um produto que deixou o dela bem lisinho... e era igualzinho ao seu. Ficou até mais bonita!
Então tive que respirar fundo... e engolir minha vontade de chorar. Sorte dela que aprendi, com meus pais, a respeitar as pessoas; sobretudo os idosos de cabelo violeta. Driblei meu lado Darth Vader, que queria estapear Dona Alaíde ali mesmo, e, de pé na saída do salão, desembuchei:
-Dona Alaíde, hoje tive um dia bom: trabalhei com pessoas queridas, comi um prato delicioso no almoço, vi coisas belas que encantam meus olhos. Infelizmente, justo quando vim relaxar aqui no salão, tive que ficar ouvindo essa ladainha da senhora, que foi a pior coisa que aconteceu no meu dia. Num mundo cheio de desgraças reais, até que tá bom, né? Não posso reclamar... boa noite, gente, obrigada.
É... educação, elegância e bom senso passaram longe desta Dona Madame. E eu preciso me fortalecer para lidar com os “bem-intencionados” que, eventualmente, se sentirão ofendidos quando eu rejeitar conselhos não solicitados sobre como viver esta fase linda, intensa e amorosa, mas que, obviamente, também tem suas sombras. Estou disposta a passar por todas; só não admito que venham apagar minha luz.
-Quase 8.
-Com essa barriga enooorme?! Impossível estar só de 8... está muito grande! Vai nascer a qualquer momento, menina. Ou você tem diabetes?!
-Não... não tenho.
De olhos fechados, senti o jato d’água morninha lavando meu bulbo capilar. “Ah, tá... então quer dizer que esta sábia senhora desconhecida sabe mais que meu obstetra, que os 5 ultrassons estavam errados, e que todos os exames do meu pré-natal mentiram pra mim!”
-Olha, eu tive 6. Todos nasceram com olhos azuis! Saiba que, desde bebê, é importante não mimar, viu? Quando chorar, você não pode pegar no colo, não. É manha. Tem que deixar no berço, pra aprender desde cedo.
“Aprender o quê, minha senhora!? A lidar com o abandono? Isso só pode ser pegadinha...”
-E outra coisa: você tem marido, né? Pra vocês dormirem de noite, não pode acostumar a mamar no peito, não. Pros meus eu já dei mamadeira logo cedo. E dormiam a noite inteira, era uma beleza. Você se recupera rápido e não fica com os seios caídos... ainda mais você, que já tem bastante. Senão o marido que sente, né?
E riu. Sozinha. A danada da velha.
Aí falei pra cabeleireira que preferia enxaguar o produto em casa, mesmo. Enquanto passava meu cartão de débito, a senhora ainda teve tempo para soltar a seguinte pérola:
-Você não faz escova? Quando nascer, vai precisar ter um cabelo mais prático. A moça que trabalha lá em casa passou um produto que deixou o dela bem lisinho... e era igualzinho ao seu. Ficou até mais bonita!
Então tive que respirar fundo... e engolir minha vontade de chorar. Sorte dela que aprendi, com meus pais, a respeitar as pessoas; sobretudo os idosos de cabelo violeta. Driblei meu lado Darth Vader, que queria estapear Dona Alaíde ali mesmo, e, de pé na saída do salão, desembuchei:
-Dona Alaíde, hoje tive um dia bom: trabalhei com pessoas queridas, comi um prato delicioso no almoço, vi coisas belas que encantam meus olhos. Infelizmente, justo quando vim relaxar aqui no salão, tive que ficar ouvindo essa ladainha da senhora, que foi a pior coisa que aconteceu no meu dia. Num mundo cheio de desgraças reais, até que tá bom, né? Não posso reclamar... boa noite, gente, obrigada.
É... educação, elegância e bom senso passaram longe desta Dona Madame. E eu preciso me fortalecer para lidar com os “bem-intencionados” que, eventualmente, se sentirão ofendidos quando eu rejeitar conselhos não solicitados sobre como viver esta fase linda, intensa e amorosa, mas que, obviamente, também tem suas sombras. Estou disposta a passar por todas; só não admito que venham apagar minha luz.
Existe amor em SP |
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