Meu primeiro emprego com carteira assinada, no século passado, foi na empresa aérea Transbrasil, no maior aeroporto internacional do país. Acordava às 4:30h da manhã para pegar o fretado pra Guarulhos e bater cartão para o check in das seis da matina. Eu era, então, uma daquelas mocinhas com meias Kendall cor da pele, maquiagem leve com sombra clara, e coque preso com redinha atrás da nuca. Na primeira semana de trabalho, Tarcísio Meira me disse: "que sorriso lindo!", e fiquei toda, toda.
Depois disto, entrei na Wall Street Institute da Av. Faria Lima, e, com gostinho de promoção, virei professora de inglês por mais de 8 anos. Dei aulas para executivos, madames, descolados, crianças, adolescentes... em sala de aula, eu fazia meu "número" para os alunos aprenderem com diversão. Mais tarde, já na Wizard, fiz amigos pra uma vida inteira e vivi intensamente as melhores experiências da juventude.
Nesta época, me formei em Publicidade na Faculdade de Comunicação Social Oswaldo Cruz; papai me disse que eu tinha que ser "alguém na vida". Pronto!
E só então, finalmente, pude estudar o que sempre quis desde muito jovem: Teatro. Comecei o curso técnico profissionalizante no Teatro Escola Macunaíma, e lá amadureci como pessoa e profissional. Nossa... já faz mais de uma década! Até hoje carrego lembranças e pessoas que me marcaram à época. Tanta coisa aconteceu... e esta vida raramente nos leva aonde planejamos; toda escolha tem sua renúncia.
Lidei com pessoas do mal: "Brenda, desista, você não vai conseguir! Você já está velha e não é filha de ninguém!". De fato: um pai executivo da Nestlé e uma mãe enfermeira do S. Mateus não podem impulsionar minha carreira... me resta correr atrás e confiar.
E tem também os ignorantões: "Brenda, você é mesmo atriz? Então como nunca te vi nas novelas da Globo?". Boa pergunta cretina... liga lá no Projac e descobre isto pra mim!
E aqueles que dizem: "Mas... Brenda, fora ser atriz, você trabalha? E isso dá dinheiro?". Não, não dá muito. Só às vezes, um pouco. Não tenho trabalho sempre. Cada dia é uma luta constante. Tem que acreditar e desejar com força, persistir e trabalhar bastante. Uns dão mais sorte que outros; sem que o talento de cada um esteja em jogo. Assim é o jogo.
E, quer saber? Se eu pudesse, faria tudo de novo! Cada apresentação de teatro-empresa, cada evento infantil, cada show de comédia em bar... porque tudo aquilo me fez única. Não é pelo dinheiro: é pelo sonho, pela causa, pela busca que nunca cessa. É pelo amor que sinto quando estou fazendo o que gosto e escolhi pra mim. É por cada vitória celebrada, pelas conquistas, passo a passo. É tão bom olhar pra dentro de mim e me sentir em paz... simplesmente agradecer por estar aqui, presente, de corpo, alma e coração. Eu confio na loteria da vida!
Aos amigos artistas, que, assim como eu, matam um leão por dia, envio todo meu amor.