Com a palavra, meu primo Idelber Avelar:
"Sempre que um grande líder revolucionário se torna inatacável e começa a alcançar a unanimidade, os hipócritas que tentaram sufocá-lo enquanto ele lutava mudarão de estratégia e tentarão neutralizá-lo, apagando de seu legado aquilo que o tornava revolucionário. Nelson Mandela não foi a Madre Teresa de Calcutá na qual, curiosamente, querem transformá-lo agora aqueles que antes o chamavam de terrorista. Foi um líder revolucionário. O maior líder revolucionário do nosso tempo."
Texto na íntegra (por Idelber Avelar):
"Sempre que um grande líder revolucionário se torna inatacável e começa a alcançar a unanimidade, os hipócritas que tentaram sufocá-lo enquanto ele lutava mudarão de estratégia e tentarão neutralizá-lo, apagando de seu legado aquilo que o tornava revolucionário. Aconteceu com Zumbi, aconteceu com Martin Luther King e acontece agora com Nelson Mandela que, a se crer nos obituários da imprensa e dos políticos, teria sido uma espécie de Madre Teresa de Calcutá, pacifista, não-violento e passivo. Nada mais longe da verdade.
1. Israel, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha tentaram sufocar Mandela e a luta anti-Apartheid de todas as formas possíveis e imagináveis. Apoiaram a atrocidade e lucraram com ela até o último minuto. Seus chefes de governo não têm autoridade moral para se apropriar do legado de Mandela até que peçam desculpas ao povo sul-africano pelo sofrimento infligido.
2. Da capa do New York Times (http://bit.ly/1d4BHpx ) até a cínica nota do governo paulista (http://bit.ly/1d4DJ9c ), fala-se de Mandela como o homem da “resistência pacífica” e da “não-violência”. Balela. Essa mesma turma estava (NYT) ou estaria (Alckmin) chamando Mandela de “terrorista” nos anos 60.
3. Mandela foi co-fundador do braço armado do Congresso Nacional Africano, o Umkhonto we Sizwe. Em seu impressionante discurso ante o tribunal que o condenou à prisão perpétua (e sobre o qual seu advogado branco lhe advertiu: “vão te enforcar logo em seguida se leres isto”), Mandela disse: “no começo de junho de 1961, depois de análise longa e angustiada da situação sul-africana, eu e alguns colegas chegamos à conclusão de que, já que a violência neste país era inevitável, seria errado e irreal que os líderes africanos continuássemos a pregar a paz e a não violência, num momento em que o governo reagia com a força a nossas demandas pacíficas” (http://bit.ly/1dUm9tr). O Umkhonto we Sizwe realizou inúmeras ações armadas contra o Apartheid, todas elas com o apoio de Mandela.
4. Em 1985, Botha ofereceu a Mandela a liberdade se ele renunciasse à luta armada. Madiba recusou. Ainda em 1990 (vejam só, em mil novecentos e noventa!), no momento em que o liberam da prisão, Madiba declara: “os fatores que exigiram a luta armada ainda existem hoje. Não temos opção senão continuar. Expressamos a nossa esperança de que seja criado um clima que conduza a uma solução negociada para que já não haja necessidade de luta armada” (http://bit.ly/1d4BHpx).
5. É verdade que, ao ser eleito em 1994, Mandela soube estender a mão à minoria branca, promover a reconciliação e evitar uma guerra civil. Ao se reunir com Botha, Madiba chega falando africâner, como gesto simbólico (http://bit.ly/1d4Cff3), pois sabia que estava numa posição de enorme superioridade moral. Mas essa posição foi CONQUISTADA, com lutas pacíficas e não-pacíficas. Mandela apoiou ambas.
6. Nenhum líder revolucionário escolhe “violência” ou “não-violência” assim, no abstrato, divorciado do contexto, como se se tratasse de escolher Grêmio ou Internacional para a vida toda. Mandela não foi a Madre Teresa de Calcutá na qual, curiosamente, querem transformá-lo agora aqueles que antes o chamavam de terrorista. Foi um líder revolucionário. O maior líder revolucionário do nosso tempo."
Idelber Avelar |
Nenhum comentário:
Postar um comentário