Brenda Ligia tentando pegar onda em Fernando de Noronha. |
E então, a balzaca encasquetou: queria pegar onda pra valer, com prancha e tudo. Era isso. Foi um custo! Concentração: firmou os pés ali, jogou o peso acolá, acreditou que ia dar certo e foi... foi arrastada mar afora, bebeu água salgada e ralou o traseiro na areia fina de Noronha. Nem doeu, riu.
Foi de novo: remou... era tanto mar, brisa, vida! Sorriu, boiando feito jaca flutuante. Esperou, contemplou a beleza. A mente viajava ao longe quando veio a onda forte que lhe cobriu a cabeça e seguiu seu curso, alheia ao amarelo reluzente que acompanhava a espera. Atenta: lá vem mais uma... ah, não vingou. Ondas são como gente: umas nascem com força pra morrer na praia, e outras, mais fracas, vão minguando até sumir na vastidão da massa, juntando suas lágrimas às águas das outras cada vez que uma pessoa deixa de acreditar no amor que sente pelos seus sonhos.
Não se sabe quanto tempo a mulher ficou ali; na sua cabeça tocava Cesária Évora. Via pássaros coreografando o som dos ventos no céu, peixes coloridos cortando as águas cristalinas; sentia o sol morninho banhando sua pele molhada e a água salgada cicatrizando feridas. Continuava tentando pegar onda: a diversão de fracassar tinha tanto gosto de vitória como a única vez em que conseguiu ficar (quase) de pé na prancha! Durante segundos, deslizou, soberana, com a boca aberta, sobre o mar... e gritou, feliz!
Caldo; caiu. E riu. Pela boca aberta do riso, engoliu uns mililitros, sal e areia. Com os gambitos enganchados na cordinha, levou outro tombo bobo. Sempre protegida pela paz da profunda comunhão entre a natureza bela e sua própria alma, que estava, aí sim!, "na crista da onda".
Por Lenda Brígia em 31 de dezembro de 2013.
"É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão"- Ou Confúcio ou provérbio chinês, não sei... tô confúcia.