Curso com Fátima Saadi (RJ)/ Sesc PE (realização: Rudimar Contâncio/ coordenação: Antonio Cadengue)
A moralização típica da comédia de costumes e do melodrama transforma-se em discussão moral ou discussão da moral.
Curso intensivo com F.Saadi, com espetáculos, conferências, palestras e debates com outros especialistas no tema.
Acima, os planos "Alucinação", "Memória" e "Realidade", no palco do Teatro Marco Camarotti, em Recife.
Mergulho intenso nos estudos de procedimentos como a síntese, o jogo de versões, a desconstrução do senso comum, o traço forte do grotesco e a vertiginosa rapidez da ação.
Mestre e Diretor Antonio Cadengue no Teatro Marco Camarotti |
Nelson Rodrigues |
TEATRO DESAGRADÁVEL, por Nelson Rodrigues (outubro de 1949)
"No meu exagero, dividia os nossos autores em duas classes: a dos falsos profundos e a dos patetas. Esta última sempre me pareceu a melhor, a mais simpática. Recebi, muitas vezes, este conselho:'Você precisa perder a mania de ser gênio incompreendido!'.
Enveredei por um caminho que pode me levar a qualquer destino, menos ao êxito. Que caminho será esse? Respondo: de um teatro que se poderia chamar assim - desagradável. Numa palavra, estou fazendo um "teatro desagradável", peças desagradáveis. E por que peças desagradáveis? Segundo já se disse, porque são obras pestilentas, fétidas, capazes, por si só, de produzir o tifo e a malária na platéia.
Peçam tudo, menos que eu renuncie às atrocidades habituais dos meus dramas. Considero legítimo unir elementos atrozes, fétidos, hediondos ou o que seja, numa composição estética. Qualquer um pode, tranqüilamente, extrair poesia de coisas aparentemente contra-indicadas. E continuarei trabalhando com monstros. Quando escrevo para teatro, as coisas atrozes e não atrozes não me assustam.
Quando se trata de operar dramaticamente, não vejo em que o bom seja melhor que o mau. Passo a sentir os tarados como seres maravilhosamente teatrais. E no mesmo plano de validade dramática, os loucos varridos, os bêbados, os criminosos de todos os matizes, os epiléticos, os santos, os futuros suicidas. A loucura daria imagens plásticas e inesquecíveis, visões sombrias e deslumbrantes para uma transposição teatral!" (trechos)
"No meu exagero, dividia os nossos autores em duas classes: a dos falsos profundos e a dos patetas. Esta última sempre me pareceu a melhor, a mais simpática. Recebi, muitas vezes, este conselho:'Você precisa perder a mania de ser gênio incompreendido!'.
Enveredei por um caminho que pode me levar a qualquer destino, menos ao êxito. Que caminho será esse? Respondo: de um teatro que se poderia chamar assim - desagradável. Numa palavra, estou fazendo um "teatro desagradável", peças desagradáveis. E por que peças desagradáveis? Segundo já se disse, porque são obras pestilentas, fétidas, capazes, por si só, de produzir o tifo e a malária na platéia.
Peçam tudo, menos que eu renuncie às atrocidades habituais dos meus dramas. Considero legítimo unir elementos atrozes, fétidos, hediondos ou o que seja, numa composição estética. Qualquer um pode, tranqüilamente, extrair poesia de coisas aparentemente contra-indicadas. E continuarei trabalhando com monstros. Quando escrevo para teatro, as coisas atrozes e não atrozes não me assustam.
Quando se trata de operar dramaticamente, não vejo em que o bom seja melhor que o mau. Passo a sentir os tarados como seres maravilhosamente teatrais. E no mesmo plano de validade dramática, os loucos varridos, os bêbados, os criminosos de todos os matizes, os epiléticos, os santos, os futuros suicidas. A loucura daria imagens plásticas e inesquecíveis, visões sombrias e deslumbrantes para uma transposição teatral!" (trechos)
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