Depois de viajar a trabalho por mais de dez cidades mineiras, chegamos à última etapa: Itumirim, sul de Minas. Pela janela em movimento, meus olhos varriam as ruas de paralelepípedos: crianças caminhavam pra escola, mulheres abriam o comércio, homens guiavam viaturas. Respiro (verde), paz (interior). Então notei, na lomba do passeio, um ser pequenino e leve que flutuava pela cidade: uma senhora mirim. Queria carregá-la no colo, pensei, sorrindo. Que linda... sumiu no bolo de gente.
Mas atração é lei: enquanto a equipe descarregava na locação, fui andar na praça à frente. Como mágica, dei de cara com ela (a senhora mirim), e meu coração saltou pela boca em forma de sorriso.
-Oi, tudo bem? Como é o nome da senhora?
-Rosária. E o seu, fia?
-Brenda. Prazer, Dona Rosária.
-Prazer, Brenda.
-Eu vi a senhora andando perto do mercado, e quis pegar a senhora no colo.
-Ah, fia, pode pegar, que eu tô custando a andar.
-Sério? Não vai quebrar nenhum ossinho da senhora?
-Não, fia. Minha neta me carregava todo dia. Eu gosto. Pó pegá.
Então acomodei Dona Rosária em meus braços, sob efeito cadeirinha. Ela, fofa, deu um impulso pra cima, como quem tenta voar. Leve, subiu. Riu do tamanho do rio Capivari, ainda mais perto do azul do céu (de poucos dentes e muitas estrelas). Sussurou o nome da neta (pausa); e ficamos as duas ali, estáticas na menor distância entre as batidas de dois corações. Nos olhinhos úmidos da senhora, aquela lágrima era a saudade; por isso não cai.
B.L.
"A Vida é Agora" (Eckhart Tolle)
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