O primeiro longa-metragem a gente nunca esquece. Foi o filme “Bom dia, eternidade”, do cineasta negro Rogério de Moura, filmado aqui em São Paulo e lançado em 2010. Atriz Brenda Ligia, no primeiro trabalho no Cinema nacional, teve a honra de contracenar e aprender com Zezé Motta, João Acaiabe, Eduardo Acaiabe. Antonio Pitanga, Milhem Cortaz, Valéria Pontes, Eduardo Silva, Débora Duboc, Lena Roque, Edson Monttenegro, Luciana Silveira, Robson Nunes e Augusto Pompeo também abrilhantaram o elenco. Foi o último trabalho de Renato Consorte e José Vasconcelos. E assim nasceu meu amor pela nossa Sétima Arte.
DOGMA FEIJOADA. Já ouviu falar? É um manifesto do Cinema Negro articulado pelos cineastas Jeferson De, Rogerio de Moura, Luiz Paulo Limae outros nomes, como alternativa para eliminar estereótipos do audiovisual brasileiro e dar voz às pessoas negras contando suas próprias Histórias. O autor deve ser negrx, a protagonista também, a temática do filme deve estar relacionada com a cultura negra brasileira, o roteiro deverá privilegiar o “negro comum” e heróis ou bandidos devem ser evitados.
Tive o privilégio de beber desta fonte. Também atuei no filme “Põe a mão aqui”, de Jeferson De, onde contracenei com Eduardo Silva e o finado Norton Nascimento. Que venham outros negrxs brasileirxs traduzindo a própria realidade na tela. Isso é importante porque nossa representatividade no audiovisual é quase inexistente.
Segundo pesquisa feita pela ANCINE - Agência Nacional do Cinema, dos 142 filmes nacionais produzidos em 2016, NENHUM foi dirigido por mulheres negras. Apenas 13,3% do elenco era formado por pretos e pardos. A população brasileira tem 51% de mulheres e 54% de negros. É comum, no Brasil, elencos principais compostos quase exclusivamente por atores brancos. Você acha isso normal?
“Nenhum país sobrevive sem cultura. Além de ser a identidade de um país, a cultura é também indústria. Cinema é uma arma de construção em massa”.
Bacurau - O Filme, representante do Brasil em Cannes / 2019)
E assim seguimos na luta e na resistência, fazendo sempre mais que o melhor, na vida e na arte.
* “Bom dia, eternidade” foi exibido na Mostra Afrofuturismo (novas narrativas sobre a diáspora África-América) em 2015, no Cine Caixa Belas Artes, em SP, e em 2017 na Mostra CAIXA Cultural Recife (Zezé Motta: 50 anos de Cinema).
“Até que os leões inventem suas próprias histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caça”.
Provérbio africano
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