Cena I
Uma mulher negra e alta arruma as malas para viajar a trabalho.
(Feliz, aproveito a passagem para ficar uns dias a mais com a família em São Paulo. Mil planos à vista: levar as crianças ao parque, declarar o imposto de renda da minha mãe, beber vinho na madrugada com as amigas, assistir às peças dos colegas em cartaz...)
Toca o telefone. Ela ouve. Seu coração vai ficando
apertado, diminuindo de tamanho.
(A voz dela
estava diferente ao telefone; mais rouca. Me contou que estava com falta de ar,
sem fôlego, dificuldade na respiração. “Fui pro hospital, suspeitaram de
pneumonia. Não era. No exame, apareceu um caroço de 2cm no meu pulmão, comadre”
– nesse ponto ela começou a chorar. Sentei, fraca. Não saíam palavras. Eu tentava
engolir minha amargura para vomitar esperanças)
Pausa dramática (na vida).
(Estou com
dor no coração. A gente nunca acha que vai acontecer de verdade, de repente. Duvida-se
que o cigarro faça mal até que alguém próximo entre pras estatísticas.
Minha comadre é uma mistura de mãe com irmã mais velha: foi quem estava comigo no dia em que mais chorei nessa vida, aos 11 anos de idade. E também a primeira amiga com quem morri de rir.
É uma mineira bonita, balzaca alegre, enfermeira trabalhadora, que mulher divertida! Sou madrinha de batismo da sua única filha; hoje, a mais linda moça, minha afilhada. Estamos conectadas na alegria e na saúde, na tristeza e na doença. É família, uai).
Minha comadre é uma mistura de mãe com irmã mais velha: foi quem estava comigo no dia em que mais chorei nessa vida, aos 11 anos de idade. E também a primeira amiga com quem morri de rir.
É uma mineira bonita, balzaca alegre, enfermeira trabalhadora, que mulher divertida! Sou madrinha de batismo da sua única filha; hoje, a mais linda moça, minha afilhada. Estamos conectadas na alegria e na saúde, na tristeza e na doença. É família, uai).
Quando desliga o telefone, a mulher já não é
mais tão alta. Nem feliz.
(Continuo
arrumando a mesma mala, mas a bagagem que levo agora é diferente: pesa mais.
Mas tem que ter força pra carregar. É... as voltas que a vida dá. Meu fim de
semana em SP incluirá pernoites na badalação do hospital, acompanhando minha grande
amiga em sua luta. Vão fazer a cirurgia para retirar o tumor. Maldita doença...
mas estamos confiantes que vai dar tudo certo! Os médicos são bons, a medicina tá avançada... e tem Deus! Está, então, em boas mãos: pode entregar. E tô
chegando! Quando a vida dói no peito, pode segurar minha mão, comadre querida. Gente
serve também pra fazer chorar... mesmo nós, que sempre rimos de tudo até hoje
nessa vida. É muito amor, viu? E isso também cura. Te amo).
Esta é minha comadre amada!
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