Aqui em Recife, na praia de Boa Viagem, hoje...
(em época de Copa do Mundo, todo mundo vê tv).
(link: http://www.youtube.com/watch?v=kTC2EGcL0ug)
Brenda Ligia-Cinema,TV,Teatro
- Brenda Ligia
- Brenda Ligia é atriz, mestre de cerimônias, diretora, apresentadora e locutora trilíngue (inglês/francês). Como atriz, atuou em 15 longas, 12 séries de TV, dezenas de curtas e espetáculos. Prêmios/ ATRIZ -Prêmio de melhor atriz no Brazil New Visions Film Fest (2023) -Prêmio de melhor atriz no Festival Riba Cine RJ (2022) -Prêmio de melhor atriz no Festival CinePE (2017) Prêmios / Diretora: -Prêmio Diáspora no Silicon Valley African Film Festival (USA, 2020) pelo seu curta Contraste, lançado pela MídiaNINJA -Prêmio Empathy no Essential Stories Project USA (2020) pelo seu documentário Ilê -Prêmio Especial no Cine PE (2014) pelo seu documentário Rabutaia CINEMA Cidade; Campo (Berlinale) 2024, Amado (Globoplay, Telecine) Sangue Azul (Netflix), Bruna Surfistinha (Netlix), etc. TV Séries Além do Guarda-roupa (HBO Max), Assédio (TV Globo, GloboPlay), Sob Pressão (Globo), A mulher do prefeito (Globo), etc. MC Brenda Ligia está na lista das 10 melhores mestres de cerimônias do Brasil, via Super SIPAT. Contato: atendimento@castinglab.com.br
23 de junho de 2010
21 de junho de 2010
Momento de Relaxamento
Um renomado (e gente da melhor qualidade) músico pernambucano chega ao salão de um shopping no Recife com o intuito de aparar suas madeixas encaracoladas. Com horário marcado por sua elegante esposa, entra e senta ao lavatório para desaguar sua ressaca cansada de sábado cedo.
Em meio a tititi feminino de cunho aleatório, perguntam-lhe se gostaria de fazer um relaxamento. Ora... claro! Topa. Inclina-se, ansioso, aguardando o relaxamento vindouro. Lavam. Penteiam. Esticam. Enxáguam. E ele lá, menos relaxado do que gostaria, mais tenso do que deveria. O efeito calmante da água aliado ao tempo de ação do produto finalmente o fazem relaxar. Zzzzz... pronto!
Anunciam o fim do relaxamento. Endireitando a postura, ele sente arrepio na espinha dorsal ao ver o risinho leve da esposa que observa, já de pé, o despertar de seu cochilo brando. Pressente um desconforto tenso, evita olhar-se no espelho, e paga os (absurdos!) cem reais que lhe cobram pelo serviço.
Inevitavelmente, olha-se no espelho e assusta-se com seu próprio susto. Ele, cabra-macho pernambucano, fora transformado num EMO, em véspera de show de abertura do São João no Recife. O desespero brota em sua alma e transcende os limites de sua expressão facial, fazendo sua mulher irromper em risos. Ele afasta a franja lisa-lambida de sua testa e mentaliza xingamentos de toda sorte.
-Me fala por que você resolveu fazer um relaxamento - ela quer saber.
-Não quero falar disso, agora - esquiva-se, murcho. Liso. Lambido. Envergonhado. Tudo, menos relaxado. Aliás, nada conseguira deixá-lo tão nervoso quanto aquele relaxamento.
2 de junho de 2010
O sapateiro
Estou envolvida até o talo com os preparativos pré-viagem. Ando com uma lista de missões burocráticas a resolver (inclui até mesmo uma visita à Caixa Econômica Federal, imagine!). Hoje, porém, respirei fundo ao ler aquele item específico: "ir ao sapateiro". Ah, pronto!
Era sabido que o sapateiro me detestava, e eu também o detestava de volta. Quantas vezes saí bufando da sapataria, porque ele fora mal-criado! Dizia que ia procurar outra sapataria e ele recusava meus sapatos. Prometi não voltar naquele muquifo, no entanto, era esse o item da minha lista burocrática, de modo que lá fui eu, rumo à sapataria como quem caminha pra forca.
Ao avistar-me, bufou. Também bufei. Rosnou. Eu também. Realmente: eu e o sapateiro não vamos um com a cara do outro! Faíscas no ar: viramos personagens de bang bang no velho oeste norte-americano... cruz credo!
Eu disse que ia viajar dentro de 2 dias, então precisava de certa pressa (querendo dizer que eu o achava extremamente preguiçoso e ficava enojada com sua má vontade para com o trabalho, os clientes, a vida). Ele disse que já tinha "aquilo tudo de sapato pra consertar antes do feriado, ó!", mostrando a pilha de calçados (querendo dizer que me achava folgada pra caramba e que ficava puto da vida com minha falta de respeito para com o trabalho, os mais velhos, a vida).
No controle comercial, ele deu a sentença: o preço superfaturado cobrado pelo serviço indesejado. Revirei os olhos e pensei na minha viagem. Respirei fundo e abri a bolsa. Olhei, pela primeira vez na vida, dentro dos olhos daquele senhor, o sapateiro, e abri a carteira e o coração. "Fique com o troco; caixinha pro senhor". Ele, então, me surpreendeu. Fez algo que eu pensava que não fosse capaz: sorriu pra mim, pro trabalho, pro dinheiro e pra vida.
Pronto: um item a menos na minha lista. Ao lado de "ir ao sapateiro", acrescentei "José Silva", seu nome, e um sorriso sem carrancas.
Ao avistar-me, bufou. Também bufei. Rosnou. Eu também. Realmente: eu e o sapateiro não vamos um com a cara do outro! Faíscas no ar: viramos personagens de bang bang no velho oeste norte-americano... cruz credo!
Eu disse que ia viajar dentro de 2 dias, então precisava de certa pressa (querendo dizer que eu o achava extremamente preguiçoso e ficava enojada com sua má vontade para com o trabalho, os clientes, a vida). Ele disse que já tinha "aquilo tudo de sapato pra consertar antes do feriado, ó!", mostrando a pilha de calçados (querendo dizer que me achava folgada pra caramba e que ficava puto da vida com minha falta de respeito para com o trabalho, os mais velhos, a vida).
No controle comercial, ele deu a sentença: o preço superfaturado cobrado pelo serviço indesejado. Revirei os olhos e pensei na minha viagem. Respirei fundo e abri a bolsa. Olhei, pela primeira vez na vida, dentro dos olhos daquele senhor, o sapateiro, e abri a carteira e o coração. "Fique com o troco; caixinha pro senhor". Ele, então, me surpreendeu. Fez algo que eu pensava que não fosse capaz: sorriu pra mim, pro trabalho, pro dinheiro e pra vida.
Pronto: um item a menos na minha lista. Ao lado de "ir ao sapateiro", acrescentei "José Silva", seu nome, e um sorriso sem carrancas.
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