Do momento em
que a diretora me convidou pra fazer um teste pro seu próximo
longa até o instante do “ação” no set de filmagem,
muito aconteceu aqui, de dentro para fora, pra que nascesse essa personagem que me foi dada como
presente inesquecível: A Pastora. Uma delícia!
Na fase inicial
da pesquisa, passei a frequentar a Assembléia de Deus de Boa Viagem. Amigos bebiam no bar, e eu orava no culto de libertação, às quintas-feiras. De
saia nas canelas e óculos de grau, tentava não chamar atenção na igreja,
enquanto internalizava tudo: a percepção, os detalhes, o olhar do outro, a
crença.
Primeiro,
comprei a Bíblia Sagrada com letras gigantes por R$39,90, no Extra. Comecei
a ler para o trabalho, e agora continuo fazendo para a vida; gostei. Minhas
madrugadas passaram a ter companhia dos pastores que apresentam programas na
TV; coisa que sempre gostei de assistir, confesso. No meu fone de ouvido, tocava o sermão da Pastora Gisele, da Bispa Edinalva, da Irmã Maria Lúcia... aprendi expressões em aramaico que surtem forte impacto numa ministração. Kadosh
Adonai Echad Melek Al-Ilah.
Foram horas,
dias, semanas de prática... às vezes, disciplinada. Outras, preguiçosa. Muitas na frente do espelho, tantas na
web cam, e algumas só no pensamento, mesmo. Me sentia bem preparada pro teste quando chegou o dia: e consegui converter a produtora de elenco. Passei. E isso era só o começo.
Nova instrução
da direção: minha Pastora não deveria ter fé. Era uma
vaidosa, bipolar. Novo ensaio, novo elemento: ela tampouco faria referências
à Bíblia, a Deus, Jesus, Aleluia... nada disso. Claro que nada
seria tão óbvio... e achei ótimo esse
desafio do “algo a mais”, que dá riqueza ao personagem. Quando é fácil não tem graça...
Aí sim, comecei a ensaiar com mais afinco. Eram treinos solitários, com muita loucura e experimentação, para, talvez, ter conseguido chegar a algum lugar interessante.
Agora resta a
expectativa, a espera, o tempo certo pro filho ficar pronto e poder ser contemplado. E as pessoas todas dessa produção seguem eternizadas em cada sorriso que floresce do peito e transborda benquerência, matéria e estampido. Assim dá gosto trabalhar... com essa
equipe que faz tudo de verdade, com vontade de tornar o sonho real, cheio de luz,
cor e arte nessa realidade inventada.
bastidores da cena |
“Mas quem pode livrar-se porventura
dos laços que o amor arma brandamente” (Camões)