Brenda, eu entrei em desespero quando vi aquele mundo
de sangue escorrendo ralo abaixo. Eu tinha andado de bicicleta o dia
inteirinho, até machucar! “Minha mãe vai me matar!”, eu pensava. Naquela época,
ninguém conversava sobre essas coisas com a gente. Eu nunca ia imaginar que
aquilo era normal!
Aí foi a titia Islane que me chamou de canto e explicou
que todo mês ia acontecer, e que eu não podia mais subir em árvore, nadar no
rio... eu não podia fazer mais nada que eu gostava, porque eu tinha ficado
mocinha. Já pensou?
Casei com seu pai com 17 anos; menina de tudo. Com 19,
seu irmão nasceu. E eu doida com uma menininha... eu via os vestidinhos, os lacinhos...
sabe? Depois de uns anos, tentamos. E veio o Arthur.
A gente já tinha desistido da menininha quando eu
engravidei de novo. Era a última chance porque eu ia ligar as trompas. Só que
fui engordando demais da conta... foram 27 quilos, Brenda do céu! Eu virei uma
bitelona, você precisava ver que coisa horrorosa, toda inchada, parecendo uma
pata.
Tive a primeira contração às 4 da tarde e fui pra
Santa Casa, ali no São Dimas. Brenda... sei que eu sofri mais de 12 horas,
minha filha. O Doutor Olímpio falou que só uma das duas ia sobreviver, menina. Seu
pai, doidinho. Você só foi sair depois das 7 da manhã do dia seguinte! As
enfermeiras que trocavam de turno às 6 ficaram impressionadas de ver que eu
ainda tava lá. Urrando de dor... cada contração, nó!
Depois de muita peleja, você nasceu com 6 quilos e
100, Brenda. É... 6 ponto 1, fia. Também!,
veio rasgando períneo, rasgando tudo. Um rio vermelho... nossa senhora!
Só de lembrar, olha aqui o arrepio. Todo mundo vinha perguntar: “Uai, essa não é
aquela que nasceu ontem?”, “Mas desse tamanho?”. Ninguém nunca tinha visto um
bebê gigante que nem você, Brenda.
Olha, filha, se não fosse lá em Ibiá, eles iam ter te
botado naquele livro dos recordes, sabe? Como é que fala, em inglês? Tiveram
que me costurar toda. Cê quase mata a gente... cruz credo, filha.
Mãe só tem uma. E hoje é aniversário da minha!
Dona Marizia, se teletransporte já funcionasse, meu
abraço saudoso ia voar pra São Paulo e dizer “TE AMO, MAMÃE”. Parabéns!