Brenda Ligia

29 de junho de 2015

Em memória

Um dia me perguntaram se a dor do parto era a pior do mundo. "Claro que não", eu disse. Porque a pior dor do mundo não é a de ganhar um filho, e sim perder. Não existe, nessa vida, nada mais doloroso do que uma mãe se despedindo do filho. É a faca afiada da saudade que estraçalha a alma; e parece que não cicatriza nunca, Deus me livre. 
 
Ontem à noite, no Morada da Paz, presenciei uma mãe-leoa se despedindo da cria que lutou contra o câncer com todas as forças e sede de beber até a última gota de vida. Cumpriu a missão e libertou-se das dores do seu mundo; a jovem Júlia Ferreira partiu deixando saudade e lição de vida.

Então, com o coração apertado, dei meu abraço mais forte em seu pai, nosso amigo Lirio Ferreira, cujos olhos tristes refletiam o maior amor do mundo.

No caixão, entre tantas flores, a mais bela repousava serena em seu descanso perpétuo, quase sorrindo de tão linda a jovem mocinha. Dei um beijo em sua testa fria, despedindo-me da guerreira corajosa que conheci ainda criança.

"Olhaí, Juju. Eu não prometi trazer Raul pra você conhecer? Então!", pensei. As mãozinhas quentes do meu filho tentavam tocá-la, tão florida estava. Ele também se despedia; afinal, a sensibilidade dos bebês é muito maior do que se imagina.

Foi uma honra tê-la em nossas vidas, Júlia. Mas agora já pode voltar a voar: livre, enfim.
Uma roda de amor, tristeza e saudade


Lirio Ferreira, amigo gatito, amo você. Levante-se quando estiver pronto: estaremos aqui para ampará-lo.

Agora chove forte lá fora, e aqui dentro, há saudade líquida escorrendo pelo rosto, e queimando mais que a chama da vela que acendemos pra ela. Ê, vida que faz "crescer e aceitar que, de repente, tudo muda e troca de lugar."

Júlia Ferreira, descanse em paz, filha.
 
 
 
  
"A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas tem o abraço, as almas tem o enlace".
Victor Hugo
 

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