Brenda Ligia

23 de setembro de 2012

Rio Vermelho

Brenda, eu entrei em desespero quando vi aquele mundo de sangue escorrendo ralo abaixo. Eu tinha andado de bicicleta o dia inteirinho, até machucar! “Minha mãe vai me matar!”, eu pensava. Naquela época, ninguém conversava sobre essas coisas com a gente. Eu nunca ia imaginar que aquilo era normal!
Aí foi a titia Islane que me chamou de canto e explicou que todo mês ia acontecer, e que eu não podia mais subir em árvore, nadar no rio... eu não podia fazer mais nada que eu gostava, porque eu tinha ficado mocinha. Já pensou?
Casei com seu pai com 17 anos; menina de tudo. Com 19, seu irmão nasceu. E eu doida com uma menininha... eu via os vestidinhos, os lacinhos... sabe? Depois de uns anos, tentamos. E veio o Arthur.
A gente já tinha desistido da menininha quando eu engravidei de novo. Era a última chance porque eu ia ligar as trompas. Só que fui engordando demais da conta... foram 27 quilos, Brenda do céu! Eu virei uma bitelona, você precisava ver que coisa horrorosa, toda inchada, parecendo uma pata.
Tive a primeira contração às 4 da tarde e fui pra Santa Casa, ali no São Dimas. Brenda... sei que eu sofri mais de 12 horas, minha filha. O Doutor Olímpio falou que só uma das duas ia sobreviver, menina. Seu pai, doidinho. Você só foi sair depois das 7 da manhã do dia seguinte! As enfermeiras que trocavam de turno às 6 ficaram impressionadas de ver que eu ainda tava lá. Urrando de dor... cada contração, nó!
Depois de muita peleja, você nasceu com 6 quilos e 100, Brenda. É... 6 ponto 1, fia. Também!,  veio rasgando períneo, rasgando tudo. Um rio vermelho... nossa senhora! Só de lembrar, olha aqui o arrepio. Todo mundo vinha perguntar: “Uai, essa não é aquela que nasceu ontem?”, “Mas desse tamanho?”. Ninguém nunca tinha visto um bebê gigante que nem você, Brenda.
Olha, filha, se não fosse lá em Ibiá, eles iam ter te botado naquele livro dos recordes, sabe? Como é que fala, em inglês? Tiveram que me costurar toda. Cê quase mata a gente... cruz credo, filha.  
 
- Por Lenda Brígia - Baseado em fatos super reais/ livre adaptação.
Mãe só tem uma. E hoje é aniversário da minha!
Dona Marizia, se teletransporte já funcionasse, meu abraço saudoso ia voar pra São Paulo e dizer “TE AMO, MAMÃE”. Parabéns!

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